oi Publiquei o artigo abaixo, no jornal "Diário da Manhã", na edição do dia 01/10/08.
A Educação como prioridade
Daniel Lemos*
No próximo domingo (05/10/08), os brasileiros escolherão os governantes municipais, que administrarão os municípios brasileiros durante os próximos quatro anos. É um momento importante por várias razões, mas cabe destacar duas, a saber, é um momento de realização plena da cidadania e da Democracia como um valor a ser preservado e valorizado, e, também, porque, é a oportunidade de se debater as questões locais e, apontar soluções para os problemas, vivenciados pelos munícipes.
Em virtude disso, a responsabilidade de quem é da área da Educação se aprofunda. Pois, por serem os encarregados de difundir e construir o conhecimento, têm o compromisso de semear a consciência cidadã, dos educandos, e de formar para a cidadania.
Por outro lado, ao mesmo tempo em que os Profissionais do Magistério têm o dever de educar para a cidadania e, portanto, formar mentes conscientes de seus deveres cidadãos, os educadores também devem se posicionar e praticar a cidadania. Esse pleito está inserido numa conjuntura muito ambígua para a Educação, pois, se por um lado temos a grande notícia da concretização do sonho, do Piso Salarial Nacional da Educação, sancionado pelo Presidente da República esse ano, por outro lado, temos um contexto, aqui no Sul, em que há uma resistência na implementação dessa Lei, organizada pela Secretária da Educação e pela Governadora do Estado.
Portanto, é dever dos profissionais do magistério, votar e apoiar candidaturas com identificação com a categoria, senão com a classe, da educação. Exigir dos candidatos, a prefeito e vereador, o compromisso com a categoria, no sentido de atuar para a efetiva implantação do Piso Salarial Nacional da Educação – demonstrando que essa Lei é plenamente viável e se solidarizando com os professores estaduais – e, de realmente colocar a educação como prioridade de suas atenções.
*Diretoria 24º Núcleo CPERS-Sindicato
Daniel Lemos, gaúcho, mestre em Ciência Política, graduado em Direito & História, pela UFPel.
sexta-feira, outubro 03, 2008
Karl Marx manda lembranças!
Artigo de César Benjamin, publicado dia 20 de setembro, na Folha de São Paulo
As economias modernas criaram um novo conceito de riqueza. Não se trata mais de dispor de valores de uso, mas de ampliar abstrações numéricas. Busca-se obter mais quantidade do mesmo, indefinidamente. A isso os economistas chamam "comportamento racional". Dizem coisas complicadas, pois a defesa de uma estupidez exige alguma sofisticação.
Quem refletiu mais profundamente sobre essa grande transformação foi Karl Marx. Em meados do século 19, ele destacou três tendências da sociedade que então desabrochava: (a) ela seria compelida a aumentar incessantemente a massa de mercadorias, fosse pela maior capacidade de produzi-las, fosse pela transformação de mais bens, materiais ou simbólicos, em mercadoria; no limite, tudo seria transformado em mercadoria; (b) ela seria compelida a ampliar o espaço geográfico inserido no circuito mercantil, de modo que mais riquezas e mais populações dele participassem; no limite, esse espaço seria todo o planeta; (c) ela seria compelida a inventar sempre novos bens e novas necessidades; como as "necessidades do estômago" são poucas, esses novos bens e necessidades seriam, cada vez mais, bens e necessidades voltados à fantasia, que é ilimitada.
Para aumentar a potência produtiva e expandir o espaço da acumulação, essa sociedade realizaria uma revolução técnica incessante. Para incluir o máximo de populações no processo mercantil, formaria um sistema-mundo. Para criar o homem portador daquelas novas necessidades em expansão, alteraria profundamente a cultura e as formas de sociabilidade. Nenhum obstáculo externo a deteria.
Havia, porém, obstáculos internos, que seriam, sucessivamente, superados e repostos. Pois, para valorizar-se, o capital precisa abandonar a sua forma preferencial, de riqueza abstrata, e passar pela produção, organizando o trabalho e encarnando-se transitoriamente em coisas e valores de uso. Só assim pode ressurgir ampliado, fechando o circuito. É um processo demorado e cheio de riscos. Muito melhor é acumular capital sem retirá-lo da condição de riqueza abstrata, fazendo o próprio dinheiro render mais dinheiro.
Marx denominou D - D" essa forma de acumulação e viu que ela teria peso crescente. À medida que passasse a predominar, a instabilidade seria maior, pois a valorização sem trabalho é fictícia. E o potencial civilizatório do sistema começaria a esgotar-se: ao repudiar o trabalho e a atividade produtiva, ao afastar-se do mundo-da-vida, o impulso à acumulação não mais seria um agente organizador da sociedade.
Se não conseguisse se libertar dessa engrenagem, a humanidade correria sérios riscos, pois sua potência técnica estaria muito mais desenvolvida, mas desconectada de fins humanos. Dependendo de quais forças sociais predominassem, essa potência técnica expandida poderia ser colocada a serviço da civilização (abolindo-se os trabalhos cansativos, mecânicos e alienados, difundindo-se as atividades da cultura e do espírito) ou da barbárie (com o desemprego e a intensificação de conflitos). Maior o poder criativo, maior o poder destrutivo.
O que estamos vendo não é erro nem acidente. Ao vencer os adversários, o sistema pôde buscar a sua forma mais pura, mais plena e mais essencial, com ampla predominância da acumulação D - D". Abandonou as mediações de que necessitava no período anterior, quando contestações, internas e externas, o amarravam. Libertou-se. Floresceu. Os resultados estão aí. Mais uma vez, os Estados tentarão salvar o capitalismo da ação predatória dos capitalistas. Karl Marx manda
As economias modernas criaram um novo conceito de riqueza. Não se trata mais de dispor de valores de uso, mas de ampliar abstrações numéricas. Busca-se obter mais quantidade do mesmo, indefinidamente. A isso os economistas chamam "comportamento racional". Dizem coisas complicadas, pois a defesa de uma estupidez exige alguma sofisticação.
Quem refletiu mais profundamente sobre essa grande transformação foi Karl Marx. Em meados do século 19, ele destacou três tendências da sociedade que então desabrochava: (a) ela seria compelida a aumentar incessantemente a massa de mercadorias, fosse pela maior capacidade de produzi-las, fosse pela transformação de mais bens, materiais ou simbólicos, em mercadoria; no limite, tudo seria transformado em mercadoria; (b) ela seria compelida a ampliar o espaço geográfico inserido no circuito mercantil, de modo que mais riquezas e mais populações dele participassem; no limite, esse espaço seria todo o planeta; (c) ela seria compelida a inventar sempre novos bens e novas necessidades; como as "necessidades do estômago" são poucas, esses novos bens e necessidades seriam, cada vez mais, bens e necessidades voltados à fantasia, que é ilimitada.
Para aumentar a potência produtiva e expandir o espaço da acumulação, essa sociedade realizaria uma revolução técnica incessante. Para incluir o máximo de populações no processo mercantil, formaria um sistema-mundo. Para criar o homem portador daquelas novas necessidades em expansão, alteraria profundamente a cultura e as formas de sociabilidade. Nenhum obstáculo externo a deteria.
Havia, porém, obstáculos internos, que seriam, sucessivamente, superados e repostos. Pois, para valorizar-se, o capital precisa abandonar a sua forma preferencial, de riqueza abstrata, e passar pela produção, organizando o trabalho e encarnando-se transitoriamente em coisas e valores de uso. Só assim pode ressurgir ampliado, fechando o circuito. É um processo demorado e cheio de riscos. Muito melhor é acumular capital sem retirá-lo da condição de riqueza abstrata, fazendo o próprio dinheiro render mais dinheiro.
Marx denominou D - D" essa forma de acumulação e viu que ela teria peso crescente. À medida que passasse a predominar, a instabilidade seria maior, pois a valorização sem trabalho é fictícia. E o potencial civilizatório do sistema começaria a esgotar-se: ao repudiar o trabalho e a atividade produtiva, ao afastar-se do mundo-da-vida, o impulso à acumulação não mais seria um agente organizador da sociedade.
Se não conseguisse se libertar dessa engrenagem, a humanidade correria sérios riscos, pois sua potência técnica estaria muito mais desenvolvida, mas desconectada de fins humanos. Dependendo de quais forças sociais predominassem, essa potência técnica expandida poderia ser colocada a serviço da civilização (abolindo-se os trabalhos cansativos, mecânicos e alienados, difundindo-se as atividades da cultura e do espírito) ou da barbárie (com o desemprego e a intensificação de conflitos). Maior o poder criativo, maior o poder destrutivo.
O que estamos vendo não é erro nem acidente. Ao vencer os adversários, o sistema pôde buscar a sua forma mais pura, mais plena e mais essencial, com ampla predominância da acumulação D - D". Abandonou as mediações de que necessitava no período anterior, quando contestações, internas e externas, o amarravam. Libertou-se. Floresceu. Os resultados estão aí. Mais uma vez, os Estados tentarão salvar o capitalismo da ação predatória dos capitalistas. Karl Marx manda
Dia de Eleição é dia de Festa!!
Uma opinião sobre a~eleição do próximo Domingo(05-10-08), quando a Constituição do Brasil completará aniversário de 20 anos, que foi publicada no sítio "Migalhas", de 03-10-08.
"A propósito, seria tão bonito se no domingo, aniversário da Constituição, tivéssemos aquela festa nas ruas, com campanhas e tudo mais. Hoje, em dia, a pretexto de tornar o processo eleitoral mais não sei o quê, acabou-se com a festa democrática que enfeitava as cidades. E a papelada que era jogada nas ruas, coisa que durava um dia só, era um sinal de que a democracia pulsava. Hoje, dia de eleição parece dia de Finados. E aqui, entre um e outro, ficamos com Finados, pois visitar os mortos é a garantia de que estamos vivos. "
Concordo plenamente!!
"A propósito, seria tão bonito se no domingo, aniversário da Constituição, tivéssemos aquela festa nas ruas, com campanhas e tudo mais. Hoje, em dia, a pretexto de tornar o processo eleitoral mais não sei o quê, acabou-se com a festa democrática que enfeitava as cidades. E a papelada que era jogada nas ruas, coisa que durava um dia só, era um sinal de que a democracia pulsava. Hoje, dia de eleição parece dia de Finados. E aqui, entre um e outro, ficamos com Finados, pois visitar os mortos é a garantia de que estamos vivos. "
Concordo plenamente!!
sexta-feira, setembro 05, 2008
Uma opinião sensata sobre a tal "Ficha Suja":
ARTIGOS da ZERO HORA – Domingo, 03/08/08
Homer Simpson e a lista suja,
por Marcos Rolim*
Não sei exatamente o que podemos entender pela expressão homem médio, mas, se ela tiver algum sentido, penso que deva ser compreendida como algo aproximado ao conceito de espírito objetivo de que nos falava Hegel. Para o filósofo alemão, o espírito objetivo de uma época se plasmava no Direito (que regula as condutas externamente), na moralidade (que regula a ação pela idéia de dever) e na eticidade (espaço onde se atribui uma finalidade concreta à ação). O conceito, assim, no arcabouço magistral da filosofia clássica, identifica as regras (valores) e os projetos mais comuns em uma época; tudo aquilo, em síntese, que podemos atribuir a esta abstração reconhecida como o homem médio. Pois bem, o homem médio no Brasil não aprecia os políticos e não gosta, também, que alguém lhe recorde que os detentores de mandatos são uma expressão da sua própria vontade, convocada periodicamente às urnas. O homem médio se orgulha do seu distanciamento da política sem se dar conta de que é exatamente neste estranhamento que vicejam os pilantras em todos os partidos. Ruim, então, se falar qualquer coisa em defesa de políticos. Mesmo assim, vamos lá: a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) divulgou a lista de candidatos a prefeito que respondem a ações penais. A relação imediatamente chamada de lista suja pela imprensa agrega nomes de vários partidos e se transformou em peça de campanha política para aqueles que não estão nela e que, como resultado, se apresentam como limpos. Muita gente aplaudiu a iniciativa. Sinal dos tempos. A lista é um desserviço à nação, um atentado à Constituição e um descompromisso diante da idéia de justiça.
Talvez o homem médio seja um cidadão com determinada dificuldade diante de abstrações e, como o observou Márcio Chaer, determinadas idéias como “direito de defesa” não podem ser explicadas facilmente a Homer Simpson. Coloquemos o tema, então, da seguinte forma: imaginemos que o homem médio receba em sua casa uma intimação para prestar depoimento em uma ação penal que sabe ser motivada injustamente por um desafeto; que, ao final da instrução, o juiz do caso, convencido da inocência do homem médio, o absolva e que o Ministério Público recorra desta decisão. Diante desta hipótese, o homem médio concordaria que seu nome fosse exposto publicamente em uma lista chamada de “suja”? O fato de ele ser, eventualmente, candidato a algum posto altera algo quanto aos seus direitos? Por estas e por outras, nossa Constituição consagra o princípio da presunção da inocência, o que significa que ninguém será considerado culpado antes de sentença condenatória com trânsito em julgado (sem mais recursos).
Agora, imaginem o que a brava Associação dos Magistrados diria caso outra entidade resolvesse publicar a “lista suja dos juízes”, divulgando, por exemplo, os nomes dos magistrados que respondem a processos de correição interna. E a imprensa nacional, o que diria se tivéssemos uma “lista suja” dos proprietários dos meios de comunicação, ou dos jornalistas? E os empresários? Que tal uma “lista suja” das empresas? Não sei quais seriam as respostas do homem médio. Homer Simpson, por certo, trocaria o canal da TV.
*Jornalista
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