A história por trás da fotografia de Che
Enviado por luisnassif, ter, 09/10/2012 - 08:03
Por Walter Decker
Do Diálogos Políticos
Em 5 de março de 1960, Che, decretado “cubano de nascimento” por seu companheiro Fidel Castro, assistia com outros líderes da revolução recém nascida ao funeral de mais de cem vítimas do atentado contra o porto de Havana e o vapor francês ” La Coubre”, carregado de armas.
A imprensa cubana recorda que era um dia cinza, com temperatura abaixo de 20 graus, e que Korda não dimensionou a princípio a importância da imagem captada com sua câmara Leika, que, anos depois, correria o planeta, estampada em livros, cartazes, fachadas de edifícios e camisetas da moda. A fotografia tornou-se não só a mais reproduzida, como uma das mais veneradas e comercializadas no século XX.
Foi naquele dia também que o líder da revolução, Fidel Castro lançou pela primeira vez a sua não menos famosa palavra de ordem “patria ou morte!”, no caloroso discurso para milhares de pessoas que assistiam ao funeral-manifestação, com Che em segundo plano.
Perto do argentino, estavam os intelectuais franceses Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, a quem perseguia Korda, fotógrafo do jornal Revolución. A foto do guerrilheiro foi quase acidental. A tribuna do evento estava repleta de autoridades e Korda teve apenas 45 segundos para fotografá-la.
De Che, fez apenas duas fotos: uma vertical e outra horizontal, que acabou se transformando em um ícone dos movimentos de esquerda em todo o mundo. De acordo com o próprio fotógrafo, Guevara tinha um olhar tão tenso que o incomodou por um momento, mas não o suficiente para interromper de imediato as duas fotografias, antes que Che desaparecesse novamente atrás das autoridades da primeira fila.
A foto “não foi concebida, foi intuída”, disse Korda. Ele explicou que logo aperfeiçoou o trabalho no laboratório para destacar o olhar, recortando, do lado esquerdo da foto, o perfil de outra pessoa e, do direito, a inevitável palmeira tropical.
Estava pronto o famoso retrato posteriormente denominado “Guerrilheiro Heróico”, reproduzido em milhares de variações em homenagem a Che, que combateu em vários países da América Latina e África antes de morrer em uma aldeia quase deserta dos Andes da Bolívia, apenas sete anos depois.
Korda declarou tempos depois que sua foto capturou todo “caráter, firmeza, estoicismo e determinação” que Guevara possuía. Ela não foi inicialmente apreciada e sequer acompanhou a reportagem publicada pelo Revolución no dia seguinta à sabotagem de “La Coubre” e do enterro massivo. Korda a ampliou e pendurou em seu estudo, junto com um retrato do poeta chileno Pablo Neruda e imagens familiares.
O trabalho foi publicado pela primeira vez cinco meses mais tarde, para ilustrar uma notícia sobre a presença de Guevara em um evento do governo, mas passou despercebido. Só se tornou conhecido de fato após a morte de Che nas montanhas bolivianas, quando o próprio Fidel Castro buscou uma imagem sua para um cartaz de um metro por 70 centímetros, apresentado em 1967 na Itália.
Korda não cobrou nenhum centavo por seu retrato mais difundido, embora o empresário italiano que reproduziu aquele primeiro cartaz tenha vendido em poucos meses um milhão de cópias, sem sequer mencionar o fotógrafo.
Jonathan Green, diretor do Museu de Fotografia da Universidade da Califórnia em Riverside, afirmou certa vez que “a imagem de Korda se transformou num idioma ao redor do mundo. Se transformou num símbolo alfa-numérico, num hieróglifo, um símbolo instantâneo. Ela reaparece misteriosamente sempre que há um conflito. Não há nada na história que funcione desse jeito”.
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